Nas­ci­do (1912) e fale­ci­do (1992) em São Pau­lo, foi um dos mai­o­res pen­sa­do­res bra­si­lei­ros do direi­to natu­ral clás­si­co e do tra­di­ci­o­na­lis­mo polí­ti­co. Seus oiten­ta anos de vida abar­cam des­de a Pri­mei­ra Guer­ra Mun­di­al até o fim da União Sovié­ti­ca. Viveu ple­na­men­te o sécu­lo XX, seus pro­ble­mas e dile­mas: guer­ras, cri­ses, revo­lu­ções e con­trar­re­vo­lu­ções. Em sua obra, em que se per­ce­be o autên­ti­co tomis­ta que sem­pre foi, sobres­sai a mul­ti­dis­ci­pli­na­ri­da­de: tra­tou de filo­so­fia, direi­to, his­tó­ria, polí­ti­ca, soci­o­lo­gia, sem esque­cer seus escri­tos de espi­ri­tu­a­li­da­de e o cate­cis­mo que pre­pa­rou para seus filhos. Cha­ma a aten­ção o fato de Gal­vão de Sou­sa, ape­sar de sua obra vas­tís­si­ma, não rece­ber no Bra­sil a aten­ção devi­da. Por outro lado, suas obras estão tra­du­zi­das para diver­sos idi­o­mas e não fal­tam, no exte­ri­or, estu­dos aca­dê­mi­cos sobre seu pensamento.

Bacha­rel em 1934 pela Facul­da­de de Direi­to de São Pau­lo – conhe­ci­da tam­bém por Aca­de­mia de São Fran­cis­co, por refe­rên­cia ao con­ven­to fran­cis­ca­no em que se ins­ta­lou –, José Pedro gra­du­ou-se tam­bém em Filo­so­fia, pela Facul­da­de de Filo­so­fia e Letras de São Pau­lo – tam­bém conhe­ci­da por Facul­da­de de São Ben­to, por refe­rên­cia ao mos­tei­ro bene­di­ti­no em que foi fun­da­da –, em 1936. Já na épo­ca de estu­dan­te, José Pedro ini­ci­ou sua ati­vi­da­de como pen­sa­dor e homem de ação. Foi fun­da­dor da Ação Uni­ver­si­tá­ria Cató­li­ca, pro­fe­ria con­fe­rên­ci­as em ins­ti­tui­ções como o Cen­tro Dom Vital e publi­ca­va arti­gos. Ao lon­go de sua vida, fun­dou ou aju­dou a fun­dar diver­sas ins­ti­tui­ções. Tam­bém nun­ca dei­xou a ati­vi­da­de jor­na­lís­ti­ca – seus arti­gos de impren­sa tota­li­zam cen­te­nas –, sen­do cola­bo­ra­dor de diá­ri­os como O Esta­do de S. Pau­lo e O Glo­bo, além de par­ti­ci­par de con­se­lhos edi­to­ri­ais e escre­ver para revis­tas espe­ci­a­li­za­das. Impor­tan­tes em sua tra­je­tó­ria foram as revis­tas Sci­en­tia Iuri­di­ca, Recon­quis­ta e Hora Pre­sen­te.

José Pedro Gal­vão de Sou­sa foi fun­da­dor da Facul­da­de Pau­lis­ta de Direi­to, ori­gem da atu­al Pon­ti­fí­cia Uni­ver­si­da­de Cató­li­ca de São Pau­lo, da qual foi vice-rei­tor. Na Facul­da­de Pau­lis­ta de Direi­to foi cate­drá­ti­co de Teo­ria Geral do Esta­do. Foi pro­fes­sor tam­bém em outras ins­ti­tui­ções uni­ver­si­tá­ri­as, como a Uni­ver­si­da­de de São Pau­lo – em que atin­giu o grau da Livre-docên­cia –, a Pon­ti­fí­cia Uni­ver­si­da­de Cató­li­ca de Cam­pi­nas e a Facul­da­de de São Ben­to, e foi pro­fes­sor visi­tan­te de Filo­so­fia Polí­ti­ca na Facul­té Libre de Phi­lo­sophie Com­pa­rée, em Paris. No Bra­sil, fun­dou o Cen­tro de Estu­dos de Direi­to Natu­ral, que des­de sua mor­te leva seu nome. Per­ten­ceu à Aca­de­mia Pau­lis­ta de Letras, ao Ins­ti­tu­to dos Advo­ga­dos, ao Ins­ti­tu­to de Direi­to Soci­al, ao Ins­ti­tu­to His­tó­ri­co e Geo­grá­fi­co de São Pau­lo, à Soci­e­da­de de Lín­gua Por­tu­gue­sa e à Aca­de­mia Bra­si­lei­ra de Ciên­ci­as Morais e Polí­ti­cas, além de ser mem­bro hono­rá­rio da Real Aca­de­mia de Juris­pru­den­cia y Legis­la­ción, de Madrid.

Em 1949, José Pedro Gal­vão de Sou­sa tra­vou ami­za­de com Fran­cis­co Elías de Teja­da y Spí­no­la, pen­sa­dor espa­nhol, estu­di­o­so de Fari­as Bri­to. Elías de Teja­da apre­sen­tou os auto­res tra­di­ci­o­na­lis­tas his­pâ­ni­cos – como Juan Vás­quez de Mel­la, Anto­nio Aspa­ri­si y Gui­jar­ro e Enri­que Gil Robles – ao ami­go bra­si­lei­ro, que já conhe­cia os teó­ri­cos do inte­gra­lis­mo lusi­ta­no, prin­ci­pal­men­te Antó­nio Sar­di­nha. Gal­vão de Sou­sa tor­nou-se a par­tir daí o gran­de difu­sor do tra­di­ci­o­na­lis­mo polí­ti­co ibé­ri­co no Bra­sil. Na Euro­pa, teve opor­tu­ni­da­de de fre­quen­tar dis­tin­tos cen­tros cul­tu­rais, con­quis­tan­do a ami­za­de de mes­tres como Michel Vil­ley e Gon­za­gue de Rey­nold. Da mes­ma for­ma, apre­sen­tou a Fran­cis­co Elías de Teja­da dis­tin­gui­dos pen­sa­do­res bra­si­lei­ros da épo­ca, como Ale­xan­dre Cor­reia e João de Scantimburgo.

Uma bre­ve nota bio­grá­fi­ca não é o lugar de desen­vol­ver as idei­as jurí­di­cas, polí­ti­cas e filo­só­fi­cas de José Pedro Gal­vão de Sou­sa, que já mere­ce­ram uma tese dou­to­ral total­men­te dedi­ca­da ao tema, de auto­ria do pro­fes­sor espa­nhol José J. Albert Már­quez, defen­di­da na Uni­ver­si­da­de de Cór­do­ba no ano de 2008. Pelos títu­los de alguns de seus livros, con­tu­do, pode-se ter uma noção dos temas com que se ocu­pou: O posi­ti­vis­mo jurí­di­co e o direi­to natu­ral (1940), Con­cei­to e natu­re­za da soci­e­da­de polí­ti­ca (1949), For­ma­ção bra­si­lei­ra e comu­ni­da­de lusía­da (1954), Intro­du­ção à his­tó­ria do direi­to polí­ti­co bra­si­lei­ro (1954), Da repre­sen­ta­ção polí­ti­ca (1971), O tota­li­ta­ris­mo nas ori­gens da moder­na Teo­ria do Esta­do – um estu­do sobre o “Defen­sor Pacis” de Mar­sí­lio de Pádua (1972), O Esta­do tec­no­crá­ti­co (1973), O pen­sa­men­to polí­ti­co de São Tomás de Aqui­no (1980). Pos­tu­ma­men­te, saiu o Dici­o­ná­rio de polí­ti­ca (1998), em coau­to­ria com Clo­vis Lema Gar­cia e José Fra­ga Tei­xei­ra de Car­va­lho. Mere­ce men­ção espe­ci­al o cate­cis­mo que o pen­sa­dor pau­lis­ta escre­veu para seus filhos, Para conhe­cer e viver as ver­da­des da fé (1982).

José Pedro Gal­vão de Sou­sa, ao lon­go de sua vida, expe­ri­men­tou diver­sas vezes a per­se­gui­ção, mais ou menos vela­da, dos que não admi­ti­am suas idei­as. Na USP, espe­ci­al­men­te, de diver­sas manei­ras, ao lon­go de déca­das, inter­di­ta­ram-lhe o aces­so a uma cáte­dra. Na pró­pria PUC-SP, que aju­da­ra a fun­dar, o pro­fes­sor expe­ri­men­tou não pou­cas amar­gu­ras, par­ti­cu­lar­men­te nos anos seten­ta. A inte­gri­da­de de José Pedro Gal­vão de Sou­sa é um exem­plo para todos os que se dedi­cam à vida aca­dê­mi­ca. Legou-nos ele um patrimô­nio inte­lec­tu­al: fer­ra­men­tas para des­co­brir, enten­der e trans­for­mar o Bra­sil. Jus­ta­men­te por­que nun­ca se dei­xou levar pelas modas ide­o­ló­gi­cas de cada momen­to, sua obra se apre­sen­ta ain­da hoje viva e atu­al. Cabe a nós fazer-lhe jus­ti­ça; não será sem gran­de pro­vei­to nosso.